domingo, 24 de outubro de 2010

Para uma avenca partindo- Caio Fernando Abreu

Uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende? Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço....

[...]

Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender.

Cruzeiro dos sonhos.

Eu e minha fanta laranja,estamos hoje fazendo um cruzeiro no navio dos sonhos passados,eu me removo e me remonto ao ponto irreal desses olhos vazios,onde só enxergo uma luz penumbra preta rosa,lembra a luz do outro dia resto e tosco como tal derrame de sal e chuva,e sei e só sei que a uma hora dessas já devo ter morrido,e eu nem sei meu ascendente...

Lágrimas de inverno.

Lágrimas do inverno ainda habitam aqui, no canto dos meus olhos, no fundo da minha alma, nas poças paralelas do chão úmido do meu quarto, no espaço entre a minha cama e a escrivaninha. Nas folhas amassadas no chão, acompanhando o café caído ao chão. Meu peito está ensanguentado em experiências dolorosas, meu pulso rasgado na cor vermelha da carne machucada – na tentativa de impedir que a minha consciência me culpe, novamente – e sangrenta. As lágrimas ainda escorrem pelo meu rosto no fim da noite, desfilando e queimando. Minha personalidade degenera-se aos poucos no que as pessoas me transformam, na dor que eles causam e na força – que sem pena – depositam contra mim. Meus textos tornaram-se páginas velhas de um diário, pó envelhecido. Eu me jogo no abismo escuro que banha a ilusão e desisto da felicidade. Procuro defeitos onde não há perfeição. Sou incapaz de distinguir os lábios que beijo dos que almejo beijar. Pratico a minha própria queda e permaneço no chão – por escolha própria.
Meu medo por monstros inexistentes, que minha imaginação fértil inventou, me segue, persegue e engole. Seus olhos amargurados, seu pescoço cortado, seu corpo ensanguentado e sua dor, que vibra. Meus monstros decidem me ajudar, ambos caminhamos até a escuridão assombrosa daquelas ruas que aquela que amamos tocou. Jogo-me no mar que ela se banhou. Deito-me na areia que ela deitou, acredito sentir seu aroma – mas sei o quanto seria impossível.
As pessoas são imundas e com a mente desprezível, tentam atingir-me com pedras e alimentos podres. O mais podre que eu vejo são seus olhos doentios a procura de algo/alguém para idolatrar e encaixar-se em uma sociedade inutilmente adorada.
Sobrecarregarei tua garganta com a verdade forçada, desejará não reconhecer minha perfeição em outros corpos, estarei cravado em teu peito maltratado com a extensão de minha crueldade.

Você cruza a porta e eu sou toda sorrisos.

Será que você se olha no espelho e vê o que eu consigo ver todos os dias quando estou contigo? Ou essa exatidão só ocorre comigo? Meus olhos lhe têm adoração e eu não sei mais o que fazer quando lhe quero assim tão perto. As horas cismam em passar tão rápido, não acompanhando meu relógio. E quando você não vem é um dia perdido. Tive de você o contrário do que eu estava procurando. Eu me limitei a pensar que pessoas são sempre monótonas e previsíveis. Mas você não, você sempre me vem com um verso em resposta, sempre me traz um pouquinho mais do que o esperado. Você, além de tudo e de todos, balança minha estrutura. Faz-me pensar que certo é errado e as dúvidas se transformam em certezas em um piscar de olhos. E se lhe tenho comigo, não lhe deixo escapar, não vou lhe decepcionar porque isso seria uma verdadeira traição diante do que eu me tornei pelo simples fato de lhe conhecer. Eu quero uma eternidade de dias com você. E descobrir em ti o que eu ainda posso ser.
I miss you
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